terça-feira, 14 de junho de 2011

LENDA DA BOIUNA



LENDA DA BOIUNA
Cobra Grande ou Boiúna


“A serpente está dentro do Homem, é o intestino. Ela tenta, trai e pune.” Vitor Hugo


Ela é um dos mitos do Amazonas, que aparece sob diferentes feições. Ora como uma cobra preta, ora como uma cobra grande, de olhos luminosos como dois faróis. Os caboclos anunciam sua presença nos rios, lagos, igarapés e igapós com a mesma insistência que os marinheiros e pescadores da Europa acreditam no monstro de Loch-Ness. A imaginação amazônica, mais floreada e portentosa, criou para o nosso mito propriedades fantásticas: a boiúna pode metamorfosear-se em embarcação de vapor ou vela e ir da forma de ofídio à navio, para mais trair e desorientar as suas vítimas. Esta cobra, possui diferentes formas encantatórias, conformes dados colhidos entre a população ribeirinha. Acreditam até, que alguns igarapés foram formados pela sua passagem que abre grandes sulcos nas restingas, igapós e em terra firme. Na Amazônia, ela toma diversos nomes: Boiúna, Cobra Grande, Cobra Norato, Mãe D Água, entre outros, mas independentemente de seu nome, ela é a Rainha dos rios Amazônicos e sua lenda pode ter surgido em virtude do medo que provoca a serpente d’água, que devora o gado que mata a sede na beira dos rios.


Em uma tribo indígena da Amazônia, uma índia fica grávida de uma Boiúna (do Tupi Mboi, cobra, e Una, prata). Seus filhos eram gêmeos e vieram ao mundo na forma de duas serpentes negras. A tapuia então batizou-os com os nomes de Honorato e Maria.
Os gêmeos, embora gerados no mesmo ventre, ao serem jogados no rio e mesmo desenvolvendo-se em condições semelhantes, acabam desenvolvendo modos diferentes de conduta. Honorato era bom, mas sua irmã era muito perversa. Ela alagava embarcações, matava náufragos, atacava os pescadores e feria os peixes pequenos, tais maldosos feitos, levou Honorato à matá-la. Deste modo, o bem supera o mal e Honorato torna-se um herói.
Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um lindo rapaz, que deixava as águas e levava uma vida normal na terra. Para que se quebrasse este encanto de Honorato, era preciso que alguém de muita coragem derramasse leite de mulher na boca da enorme cobra, e fizesse um ferimento com aço virgem na sua cabeça até sair sangue. Ninguém tinha tamanha coragem para enfrentar este enorme monstro. Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará), conseguiu libertar Honorato desta maldição.


Honorato, cobra e rapaz, nada mais é do que a extensão de nós mesmos, em nossa condição de animais-transcendentais, pois por trás de cada monstro, sempre há um herói.
Nesta lenda que relata a metamorfose de Honorato, visualizamos a metáfora que retrata a vida cotidiana de um povo ribeirinho, que como homem-cobra, oscila vivendo em meio a uma terra úmida ou engolido pelas cheias e correntezas do rio. Terra e Água, estão na alma, nas lendas, nos mitos e na fé deste homem. Ser um pouco cobra e um pouco homem, são símbolos de uma mesma vida...


A lenda da Cobra Grande ou Boiúna nos fazem lembrar a luta entre a vida e a morte, inseparáveis uma da outra... O mito da serpente, simboliza a vida que corre como um rio, espalhando a exuberância e a abundância da mãe-terra, grávida de energia cósmica, pulsando incessantemente, alimentando-se da morte para gerar mais vida...


É neste Brasil onde imergem e emergem lendas e mitos como a da Cobra Grande, que encontramos formas para divulgar e valorizar a cultura de nossas almas brasileiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...